quarta-feira, 7 de junho de 2017

Como as crianças e jovens estudantes podem nos ensinar a pensar melhor o ensino/aprendizagem de ciências.




Como as crianças e jovens estudantes podem nos ensinar a pensar melhor o ensino/aprendizagem de ciências.




Aprender a aprender
Em um mundo em constantes mudanças, tanto os estudantes como os professores precisam adquirir para si mesmos essa habilidade essencial.

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Os professores se desalentam ao constatar como os padrões educacionais se deterioram e como os estudantes se tornam apáticos. Num País em transição, tanto os estudantes como os professores precisam ensinar a si mesmos uma habilidade essencial – precisam aprender a aprender.

À exceção das crianças (que não sabem o suficiente para deixar de fazer as perguntas importantes), poucos de nós passam muito tempo pensando por que a Natureza é como é; de onde veio o Cosmos, ou se ele sempre existiu; se o tempo vai um dia voltar atrás, e os efeitos vão preceder as causas; ou se há limites elementares para o que os humanos podem conhecer. Há até crianças, que desejam saber como é um buraco negro; qual é o menor pedaço de matéria; por que nos lembramos do passado, mas não do futuro; e por que há um Universo.
Muitas crianças e jovens estudantes são cientistas natos – embora tenham mais desenvolvido o lado da admiração que o do ceticismo. São curiosas, intelectualmente vigorosas. Perguntas provocadoras e perspicazes saem deles aos borbotões. Demonstram enorme entusiasmo. Eles nunca ouviram falar da noção de “perguntas imbecis”. Como dizia Carl Sagan, pode haver questões ingênuas, enfadonhas, mal formuladas, mas não há perguntas imbecis: toda pergunta é um grito para compreender o mundo.

                                                                                                                                       FOTO: Carl Sagan
Não existem perguntas imbecis
Há perguntas ingênuas, perguntas enfadonhas, perguntas mal formuladas, perguntas propostas depois de uma inadequada autocrítica. Mas definitivamente não existem perguntas imbecis

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Muitos adultos ficam desconcertados quando as crianças pequenas fazem perguntas científicas. Por que a Lua é redonda? perguntam as crianças. Por que a grama é verde? O que é um sonho? Até onde se pode cavar um buraco? Quando é o aniversário do mundo? Por que nós temos dedos nos pés? Muitos professores e pais respondem com irritação ou zombaria, ou mudam rapidamente de assunto: “Como é que você queria que a Lua fosse, quadrada? ”. As crianças logo reconhecem que de alguma forma esse tipo de pergunta incomoda os adultos.

Novas experiências semelhantes, e mais uma criança perde o interesse pela ciência. Por que os adultos têm de fingir onisciência diante das crianças é algo que nunca vou compreender. O que há de errado em admitir que não sabemos alguma coisa? A nossa autoestima é assim tão frágil? Além do mais, muitas dessas perguntas se referem a problemas profundos da ciência, alguns dos quais ainda não estão plenamente resolvidos.

Há muitas respostas melhores do que fazer a criança sentir que está cometendo um erro social crasso ao propor perguntas profundas. Se temos uma ideia da resposta, podemos tentar explicar. Uma tentativa mesmo incompleta proporciona nova confiança e encorajamento. Se não temos ideia da resposta, podemos procurar na internet. Se não temos acesso no momento, podemos levar a criança para a biblioteca. Ou podemos dizer: “Não sei a resposta. Talvez ninguém saiba. Quando você crescer, será talvez a primeira pessoa a descobrir tal coisa”.

Há perguntas ingênuas, perguntas enfadonhas, perguntas mal formuladas, perguntas propostas depois de uma inadequada autocrítica. Mas não existem perguntas imbecis. Por que os professores têm dificuldades em transmitir o conhecimento? Alguns cientistas – inclusive alguns muito bons – me dizem que gostariam de divulgar a ciência, mas sentem que não tem talento nessa área. Saber e explicar, dizem, não é a mesma coisa. Qual é o segredo?

Há apenas um, segundo Sagan: não falar para o público em geral como falam com seus pares. Há termos que transmitem instantânea e acuradamente para os especialistas o que querem dizer. Podemos analisar essas expressões todos os dias no trabalho profissional, mas elas não fazem mais do que mistificar um público de não-especialistas. Usar a linguagem mais simples possível. Acima de tudo, lembrar como é que pensávamos antes de compreender o que estamos explicando.Lembrar os equívocos em que quase caímos, e anotá-los explicitamente. Manter sempre em mente que já houve uma época em que também nada era entendido do assunto por aquele que ensina. Recapitular os primeiros passos que nos levaram da ignorância ao conhecimento. Jamais esquecer que a inteligência inata é amplamente distribuída na nossa espécie.

O trabalho requerido é pequeno (em comparação), os benefícios são grandes. Entre as armadilhas potenciais estão a simplificação exagerada, a necessidade de ser econômico com as qualificações (e as quantificações), o crédito inadequado dado aos muitos profissionais envolvidos e as distinções insuficientes traçadas entre as analogias úteis e a realidade. Sem dúvida, algumas soluções de compromisso precisam ser tomadas. Mas o caminho para estimular o jovem estudante e a criança no aprender ciências me parece apontar para esse caminho como propõe Sagan: “A resposta é sempre um trecho de caminho que está atrás de você. Só uma pergunta pode apontar o caminho para frente”


Por: Samuel Aguiar

 Texto auxiliado pelos artigos e livro:

The Demon-Haunted World
- Carl Sagan

Não há perguntas imbecis – Ciências Hoje (pode ser acessado a matéria através desse link:
Click Aqui

Carl Sagan: A meritocracia e a imbecilização das crianças : Click Aqui

Video interessante sobre o pensamento de Sagan acerca da educação: Click Aqui